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perdão IV

“Forgiveness means giving up all hope for a better past”

Jack Kornfield

Perdão implica aceitar um passado que, de qualquer modo, nos lesou, magoou ou feriu. Penso que não significa acharmos que não poderíamos ter tido um passado melhor. Perdoar e aceitar dá-nos uma certa paz porque nos é impossível alterar os acontecimentos do passado. Sermos perdoados também é importante para a nossa paz interior. Outra tarefa bem árdua é perdoarmo-nos a nós próprios. Para algumas pessoas perdoar é quase impossível, mas vivem num constante tormento de raiva e ódio da pessoa a quem não perdoam. Eu também vivo neste tormento constante porque não sou capaz de me perdoar a mim mesmo. O acto do perdão é um processo, por vezes longo e demorado, algo que temos simplesmente de aceitar, o passado é imutável. Claro que custa viver com o passado que não foi como queríamos, custa viver o presente com a mágoa e dor do passado e, custa muito mais, viver um futuro em não conformidade com o sonho desfeito pelo passado. Perdoar é preciso, para nos libertarmos das amarras que nos prendem a uma mágoa e que nos impede de construir um futuro alternativo, que pode ser melhor ou pior mas é um futuro sem mágoas e culpas passadas. Perdoar é deixar o passado voar nas areias do tempo, é guardar o bom e aceitar o mal, esquecendo-o…

não perdoarmos ou não sermos perdoados é levar o peso de uma culpa ou uma mágoa connosco através da linha infinita do tempo

 
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Publicado por em 27 de Julho de 2011 em culpa, eu, perdão

 

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culpa

Culpabilidade

O estado de pecado no homem não é um facto, senão apenas a interpretação de um facto, a saber: de um mal-estar fisiológico, considerado sob o ponto de vista moral e religioso. O sentir-se alguém «culpado» e «pecador», não prova que na realidade o esteja, como sentir-se alguém bem não prova que na realidade esteja bem. Recordem-se os famosos processos de bruxaria; naquela época os juízes mais humanos acreditavam que havia culpabilidade; as bruxas também acreditavam; contudo, a culpabilidade não existia.

Friedrich Nietzsche, in ‘Genealogia da Moral’

Culpa… A culpa implica consciência, implica termos noção do bem e do mal, implica acharmos que fizemos mal. Como ateu, não acredito em pecado, acredito em boas e más acções, acredito em crime e acções eticamente ou moralmente erradas, mas não no pecado. O pecado é o equivalente religioso ao crime, ao eticamente errado. A culpa torna-se ambígua visto que o conceito do bem e do mal pode variar de individuo para individuo e porque implica consciência de termos feito algo errado. Podemos ter culpa e não a sentir, tal como podemos não ter culpa e sentirmos que somos culpados. Quando me sinto culpado (mesmo não tendo culpa) sinto-me mal, triste e desiludido comigo, não fico bem, massacro-me mentalmente, não durmo e não consigo mesmo nem sorrir. Cada um de nós reage de modo diferente, alguns não transparecem este sentimento de culpa e outros, nem a sentem. A culpa é como um fantasma, como uma vozinha que nos recorda permanentemente do errado, não nos poupa, consome a nossa paz, corrói a nossa alma e ensombra o nosso coração. Quando olho para trás, para a minha vida toda, num exercício retroinspectivo, vejo muitos erros que cometi, vejo muita coisa que podia e devia ter feito diferente, assim como vejo erros que fizeram para comigo. Mas não odeio ninguém, encontro sempre factores abonatórios e perdoo sempre, não está na natureza do meu ser guardar rancor de alguém. Mas tenho o defeito de quando odeio alguém, é mesmo ódio, raiva. Já me estou a desviar do assunto, que era culpa. Comecei a pensar em culpa e como se reage perante a culpa e, acho que a culpa depende da mentalidade de cada um, do que cada um vê como certo ou como errado, ou, mesmo que a pessoa ache errado, pode não sentir culpabilidade enquanto não for descoberto. Há pessoas que não revelam culpa até que se saiba os erros e, algumas, mesmo depois de desmascarados continuam alheios a este sentimento. O que despoletou esta divagação sobre culpa foi uma conversa que tive com um amigo que, mesmo depois de ter sido desmascarado continuou a viver como se nada fosse, alheio ao que fez outras pessoas sofrerem e, isto está mesmo longe do que eu penso ou sinto sobre o assunto… Mesmo que eu fosse capaz de fazer o que ele fez, não conseguia viver com a paz e felicidade com que ele vive… Sinto inveja de não ser assim, já o escrevi antes, agora preferia ser uma besta insensível…

 
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Publicado por em 21 de Julho de 2011 em culpa, erro, Friedrich Nietzsche

 

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