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Arquivo da Categoria: desânimo

desânimo III

Cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço — 
Não disto nem daquilo, 
Nem sequer de tudo ou de nada: 
Cansaço assim mesmo, ele mesmo, 
Cansaço. 

A subtileza das sensações inúteis, 
As paixões violentas por coisa nenhuma, 
Os amores intensos por o suposto em alguém, 
Essas coisas todas — 
Essas e o que falta nelas eternamente —; 
Tudo isso faz um cansaço, 
Este cansaço, 
Cansaço. 

Há sem dúvida quem ame o infinito, 
Há sem dúvida quem deseje o impossível, 
Há sem dúvida quem não queira nada — 
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: 
Porque eu amo infinitamente o finito, 
Porque eu desejo impossivelmente o possível, 
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, 
Ou até se não puder ser… 

E o resultado? 
Para eles a vida vivida ou sonhada, 
Para eles o sonho sonhado ou vivido, 
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto… 
Para mim só um grande, um profundo, 
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço, 
Um supremíssimo cansaço, 
Íssimno, íssimo, íssimo, 
Cansaço… 

Álvaro de Campos, in “Poemas” 
Heterónimo de Fernando Pessoa

 
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Publicado por em 25 de Julho de 2011 em cansaço, desânimo, fernando pessoa, poesia, vida

 

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triste olhar…

A ti, que vejo quase todos os dias. A ti, que não tens voz mas tens olhar. A ti, que só tens a companhia da solidão dos teus pensamentos. O teu olhar fala comigo, mostra a essência da tua alma, e, apesar de não falares, adivinho os teus sentimentos. Revejo o teu olhar no meu, cada vez que olho o espelho. Adivinho o que alma mostra através dos teus olhos. Embora não chores, consigo ver as lágrimas que te escorrem pela face marcada pela tristeza. Vejo no teu olhar uma angústia enorme, uma tristeza cortante, uma solidão agoniante, uma dor dominante. Vejo no teu olhar uma alma dilacerada por desilusões, pela falta de fé em tudo. Vejo um único desejo, o desejo da morte. Custa-me sentir o teu olhar, reviver cada sentimento, cada emoção que nos teus olhos transparece. Dói-me a alma cada vez que sinto a morte no teu olhar. Sinto que, tal como eu, te privas de contacto com os outros, vê-se o medo que tens atrás dessa concha. É incrível conseguir “ouvir” os pedidos de ajuda silenciosos, mas oiço-os num silencio ensurdecedor que domina o teu redor. Vejo, em ti, a alma sofredora, os fantasmas todos que me assombram. Vivemos numa paz exterior e fictícia rodeado de guerras internas. A ti, que não conheço, te desejo a paz que qualquer ser merece…

 

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alma

These wounds won’t seem to heal 
This pain is just too real 
There’s just too much that time cannot erase

Evanescence – My Immortal

 
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Publicado por em 28 de Maio de 2011 em alma, desânimo, eu, sofrimento

 

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desânimo II

Estou agora triste. Há nesta vida
Páginas torvas que se não apagam,
Nódoas que não se lavam… se esquecê-las
De todo não é dado a quem padece…
Ao menos resta ao sonhador consolo
No imaginar dos sonhos de mancebo!

Oh! voltai uma vez! eu sofro tanto!
Meus sonhos, consolai-me! distraí-me!
Anjos das ilusões, as asas brancas
As névoas puras, que outro sol matiza.
Abri ante meus olhos que abraseiam
E lágrimas não tem que a dor do peito
Transbordem um momento…

Desânimo – Álvares de Azevedo (fragmento)

 
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Publicado por em 27 de Maio de 2011 em Álvares de Azevedo, desânimo, poesia

 

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eu X

Hoje o desânimo tomou conta de mim, deixei que esta melancolia me invadisse a alma, que me matasse mais um bocado. É daqueles dias em que nem lutar para viver consigo. Daqueles dias em que a minha mente não me entende nem a mim nem a ninguém. Daqueles dias em que preferia não existir ou simplesmente não ter sentimentos, estes sentimentos que me destroem. Perguntas inundam e ecoam na minha cabeça, perguntas cujas respostas que a vida me deu não entendo, muito menos aceito. Hoje viver é existir, é quase uma espera lenta, penosa e dolorosa até ao dia da morte. Amanhã? Não sei… logo se vê… logo se vê…

 
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Publicado por em 27 de Maio de 2011 em alma, desânimo, eu

 

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depressão

 

Houve tempos em que pensei que era fraco por ter entrado numa espiral de auto destruição devido à depressão. Hoje não, hoje percebi que não fui fraco, percebi que fui forte durante muito tempo.

 

 

Durante muito tempo me deixei sujeitar a uma intensa tortura psicológica. Perdi o norte, perdi as forças, nada mais fazia sentido, tudo me ia destruindo aos poucos, tudo me matava lentamente. Até que cedi, até que me fui abaixo e caí no consultório de psiquiatria. Tento levantar-me aos poucos mas ainda caio, ainda não sou eu neste corpo, a minha mente vai-se tornando cada vez mais lúcida, menos louca, mais sã. Caminho duro e lento este que percorro na sombra de mim mesmo, na sombra do que já fui e na sombra do que espero ainda ser…

 

 
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Publicado por em 12 de Abril de 2011 em depressão, desânimo, dor, eu, sofrimento, tristeza, vida

 

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e…

e… às vezes nada me importa mais… WHATEVER…

 
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Publicado por em 9 de Março de 2011 em desânimo, eu

 

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o espelho

Pensei que hoje ia acordar melhor, mas nem por isso. Mal olhei para o espelho senti-me mal, não gostei do que vi, a tua ausência não me faz bem, o teu silêncio corrói-me, a tua distância mata-me. Vejo-me um monstro, que não faz nada certo, que por mais que tente aproximar quem ama, apenas as afasta…

 
 

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e eu?

Porque não eu também?

 
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Publicado por em 4 de Março de 2011 em depressão, desânimo, eu, felicidade, tristeza

 

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gritar

http://pt.wikipedia.org/wiki/Edvard_Munch

http://pt.wikipedia.org/wiki/O_Grito_(Edvard_Munch)

Ás vezes apetece-me gritar e gritar e gritar.

Apenas pôr tudo cá para fora, esvaziar a alma.

Gritar para que todo o mal se afaste.

Gritar para que venhas para mim.

Gritar para me libertar.

Gritar para te prender a mim.

Apenas gritar.

Exorcizar a minha alma…

 
 

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desânimo

Mendiga

Na vida nada tenho e nada sou;
Eu ando a mendigar pelas estradas…
No silêncio das noites estreladas
Caminho, sem saber para onde vou!

Tinha o manto do sol… quem mo roubou?!
Quem pisou minhas rosas desfolhadas?!
Quem foi que sobre as ondas revoltadas
A minha taça de oiro espedaçou?!

Agora vou andando e mendigando,
Sem que um olhar dos mundos infinitos
Veja passar o verme, rastejando…

Ah, quem me dera ser como os chacais
Uivando os brados, rouquejando os gritos
Na solidão dos ermos matagais!…

Florbela Espanca, in “Charneca em Flor”


 
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Publicado por em 3 de Março de 2011 em depressão, desânimo, florbela espanca

 

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